quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Realidade e Utopia

Sobre a Utopia…



Quis Deus que eu viesse ao Mundo humildemente traçado para servir, trabalhar e para sonhar.

Falo de sonho porque nele encontro a origem de todas as Utopias, toda elas por definição idealizadas e irrealizáveis, e falo de servir e trabalhar, porque quem nelas acredita, com veemência, sobre elas funda novos mundos, em geral melhores que os anteriores.

Era também considerada Utopia a Igualdade, mas apesar das diferenças e atropelos a este Valor a que muitas das culturas contemporâneas não se inibem, nunca tantos estiveram tão próximos em matéria de género, interculturalidade e inclusão num Globo hoje um pouco mais democratizado.

Tal como a felicidade, miragem para tantos e tão flagrantemente utópica, nunca noutros tempos, que não o nosso, foi esta aspiração tão valorizada e considerada. Na verdade, em toda a história universal nunca esta foi bitola para a realização humana, nem nas culturas mais hedonistas, que sacralizavam o prazer mas não iam mais longe do que isso, e onde as grandes referências sempre foram da ordem do material, do moral ou do poder.

Posso falar da Utopia como uma coisa sumamente boa?

Posso... ainda há algumas que muito prezo e estimo, como são a paz, o fim da fome, o fim da doença, o fim da iliteracia, um sistema de saúde de qualidade acessível a todos, a justiça, o Planeta Terra ecologicamente reequilibrado...

Mas poderá esta escorregar para o evidentemente mau?

Sem dúvida... Quando através desta nos desligamos da realidade, para pôr as ideias à frente das pessoas, para desprezarmos o bom senso em prol da obstinação cega por objetivos irrealizáveis, quando nos esquecemos enfim que muitas vezes o ótimo é inimigo do bom, e que o Homem é único, irrepetível na sua existência e maravilhosamente imperfeito. E é exatamente por ser imperfeito que é também tão ricamente criativo e apto para sobreviver às mais duras e atrozes dificuldades.

Abraçar ternamente a Utopia é também cuidar disto de sermos imperfeitos, de olhos postos no impossível, e de não pararmos de tentar, inovar, criar, lutar, falhar, voltar a tentar, falhar novamente, falhar melhor.

Utopia é um pouco como a Visão, felizmente hoje tão bem implementada como valor para o crescimento das Organizações. Raramente estas se cumprem no modo e tempo esperados, mas se não tens uma, provavelmente é porque estás mal posicionado, e quando não se vê para onde se anda, também é difícil encontrar caminho…



Este texto é dedicado a, e inspirado em, três Amigos, três Almas generosas.

Um Grande Abraço Baixinho, Um Grande Abraço Zé Teixeira, e um Grande Abraço ao Hugo, que é o cuidador amável da obra aqui ilustrada.





Nuno Quaresma


Novembro de 2011





2 comentários:

San-Xitu disse...

Saudo-te pelo teu Talento, mas acima de tudo pela consciência que tens em dar um significado maior à tua Arte.
Viva Grande Quaresma.

Nuno Quaresma disse...

Obrigado pela saudação San-Xito:) Fizeste-me lembrar de uma frase célebre de Vincent Van Gogh que diz: " Não há nada mais verdadeiramente artístico do que amar as Pessoas", e esta arte não se faz sozinha. É uma obra comum, que se vê com o coração, e que é feita de boa energia como esta que aqui me deixas;)
Grande Abraço e Obrigado!