sábado, 14 de fevereiro de 2009

Salvator Mundi



Salvator Mundi é o nome dado originalmente a uma emblemática pintura de Cristo como “Salvador do Mundo”, que foi recentemente atribuída a Leonardo da Vinci.

Inspirado por esta descoberta e no contexto do trabalho que faço como ilustrador ao serviço da Fundação Salesianos decidi empreender uma pequena homenagem aos dois Mestres: o do Amor – Jesus Cristo; e o da Pintura – Leonardo.

Pintei esta peça-tributo com ampla liberdade interpretativa e simbólica em relação à obra que a inspira, mas fiz um esforço sério para fazer corresponder a composição iconográfica à métrica da imagem patente no Sudário de Turim.


Sobre o Sudário de Turim, também conhecido como Santo Sudário, importa saber que  é uma peça de linho que mostra a imagem de um homem que aparentemente sofreu traumatismos físicos de maneira consistente com a crucificação. O Sudário está guardado na  Catedral de Turim, na Itália, desde o século XIV. Pertenceu desde 1357 à casa de Saboia que em 1983 o doou ao  Vaticano. A peça é raramente exibida em público, a última exposição foi no ano 2010 quando atraiu mais de 50 mil fiéis.

O Sudário é um dos acheiropoieta (grego bizantino: "não feito pelas mãos") e vários cristãos acreditam que seja o tecido que cobriu o corpo de Jesus Cristo após sua morte. A imagem no manto é na realidade muito mais nítida na impressão branca e negra do negativo fotográfico que na sua coloração natural. A imagem do negativo fotográfico do manto foi vista pela primeira vez na noite de 28 de maio de 1898 através da chapa inversa feita pelo fotógrafo amador Secondo Pia que recebeu a permissão para fotografá-lo durante a sua exibição na Catedral de Turim.

A origem da peça tem sido objeto de grande polémica, porém existe consenso sobre pelo menos sete aspetos:
  • 1.       Havia sangue humano no sudário;
  • 2.       As gotículas de tinta ocre notadas na relíquia seriam resultado de contaminação;
  • 3.       A habilidade e equipamentos necessários para gerar uma falsificação daquela natureza seriam incompatíveis com o período da Idade Média, época em que o sudário apareceu e foi guardado;
  • 4.       As marcas do Sudário são um duplo negativo fotográfico do corpo inteiro de um homem. Existe a imagem de frente e de dorso;
  • 5.       A figura do Sudário, ao contrário de outras figuras bidimensionais testadas até então, contém dados tridimensionais;
  • 6.       Não existe ainda explicação científica de como as imagens do Sudário foram feitas;
  • 7.       O Sudário apresenta marcas compatíveis com a descrição da crucificação nos Evangelhos.



A obra que compus não reclama naturalmente a pretensão da “Vera Icona” (verdadeira imagem) de Jesus, mas nele procuro representar Cristo no seu Carisma e Universalidade que senti representada na obra de Leonardo.

Sobre esta obra executada pelas mãos de Leonardo importa também saber que apesar de conhecida e dada como perdida, foi recentemente redescoberta, restaurada, autenticada e exibida no ano de 2011.

A pintura mostra Cristo, em trajes renascentistas, a dar uma bênção com a mão direita levantada e dedos cruzados, e a segurar uma esfera de cristal na mão esquerda.

Este sinal da mão direita tem fundamento na história da Igreja Cristã. O sinal é encontrado nos mais antigos exemplos do “Pantocrator”, ícone atribuído à figura do Cristo-Deus, como aquele que domina todas as coisas, sejam elas terrestres ou celestes. A palavra “Pantocrator” deriva do grego e significa “aquele que tudo governa”, “todo-poderoso”, “omnipotente”.

Esta mão direita de Cristo, que desponta sob o seu manto, está erguida fazendo o gesto de bênção «à maneira grega» em que o posicionamento dos dedos forma, em sinal, as letras IC XC que representam “Jesus Cristo” em grego.

Leonardo da Vinci pintou a obra, em França, por encomenda de Luís XII entre 1506 e 1513 e o trabalho foi recentemente autenticado, reconstituindo-se o circuito de posse da obra desde Charles I da Inglaterra que a tinha registada na sua coleção de arte em 1649, até ser leiloada pelo filho do Duque de Buckingham e Normanby em 1763. Foi posteriormente comprada por um colecionador britânico, Francis Cook, visconde de Monserrate, altura em que a pintura foi danificada em tentativas de restauração. Os descendentes de Cook venderam a peça em leilão em 1958 e em 2005, a pintura foi adquirida por um consórcio de negociantes de arte que incluía Robert Simon, especialista em antigos mestres. No início a obra também foi fortemente contestada por parecer uma cópia, descrita como "um naufrágio, escuro e sombrio" mas após o restauro foi autenticada como uma pintura de Leonardo e exibida pela National Gallery de Londres durante a exposição “Leonardo da Vinci: pintor na Corte de Milão” entre 9 de novembro de 2011 e 5 de Fevereiro de 2012.

Em 2013, a pintura foi vendida ao colecionador russo Dmitry Rybolovlev por 58,2 milhões de euros.



Este meu Salvatore Mundi é, contudo, um tributo simples, humilde, mas bem-intencionado ao apelo que a Vida, Mensagem, Morte e Ressurreição de Cristo inspira em mim e nas pessoas que conheço, assim como na genialidade da obra de Leonardo da Vinci que continua a insuflar de fascínio a minha imaginação e criatividade.

Esta recensão, que tem a mesma data da assinatura do quadro, serve para partilhar com o leitor/ espectador o percurso das minhas pesquisas e reflexões que nortearam o processo criativo até à imagem e objeto estético que hoje dou como finalizado.

Nuno Quaresma
14 de Outubro de 2015


Fontes:

The Shroud Of Turin and The 3D Face of Jesus Christ:
BBC Shroud of Turin New Evidences:






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