terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Da Carris à Pintura, passando pelo Elevador da Glória










Não sei ao certo quando foi a primeira vez que tive a percepção que o meu Pai trabalhava na Carris…
Lembro-me do regresso a casa, com um balão azul e um saco de rebuçados, andava o meu Mano em fraldas.
Lembro-me que senti aquele dia como um especial e doce, feliz, tranquilo, do qual guardo inúmeras imagens, sensações, emoções.
Lembro-me também de ir ao guarda-fatos para pegar no seu chapéu com pala em vinil e logótipo metálico embutido no tecido e de andar orgulhoso com este chapéu enorme a nadar-me na cabeça.



Nos doze anos que servi a AFID, penso que esta é a primeira vez que confesso que a importância, orgulho e sentido de responsabilidade com que conduzi o volante da nossa carrinha das artes, por muitos milhares de quilómetros, foi tão grande e gratificante como o percurso pedagógico e artístico que empreendemos em conjunto na Oficina de Pintura.
Acho que, lá mesmo no fundo, sempre conservei a aspiração de infância de vir a ser como o meu Pai, vir um dia a empunhar com a mesma dignidade (o Feliciano fê-lo durante 36 anos) o enorme volante de um Autocarro.



O que é engraçado é que, hoje, nada desta minha viagem no tempo me parecia enveredar em direcção a um volante, mas as memórias são assim, de cada vez que as convocamos seguem um caminho diferente e próprio.
Realmente hoje o meu assunto é, não o volante, mas sim o freio dos Eléctricos - curiosamente foi na manutenção destas máquinas que o meu Pai começou a trabalhar, era já na época o meu Tio Manel Guarda-freio destes veículos carismáticos.
A Carris é ainda hoje uma empresa paradigmática, exemplar no tratamento a Clientes, Colaboradores, Ex Colaboradores, e no meu tempo pelo menos, até com as suas Famílias.



Quando o Francisco me lançou o desafio de empreender uma parceria criativa com os Artistas da AFID, com fim a produzir uma obra para oferecer a uma das suas Filhotas, ainda por cima na forma de uma representação dos Eléctricos do Elevador da Glória, muito para além do que visualmente a peça viria a representar, o que me preencheu foi exactamente a possibilidade de a investir de toda esta experiência, ternura e memória.
Foi nesta circunstância entusiástica, sui generis, que a obra foi iniciada e desenhada como projecto comum: uma ardósia para 30 Pintores, acariciada por todos, tacteada, cheirada, sentida.
Sobre ela foi explicada a perspectiva, o claro-escuro, o empasto, o meio-tom, a velatura, e sobretudo a vantagem de trabalhar em sinergia.



Obrigado Francisco pela paciência, mas sobretudo pelo desafio!



Querido Mano, acho que nunca permutámos recordações acerca desta viagem conjunta como filhotes de um Motorista da Carris, mas fica aqui lançado o mote ;)



À minha Querida Mãe Preciosa, costureira, companheira e co-tecedeira destas memórias, também pelo teu exemplo, ando aqui cheio de vontade de experimentar o Design de Moda e de padrões para tecidos :)



Dedicado ao meu Pai que trocou o volante pela mais nobre tarefa de ser Avô de dois Caganitos (e o terceiro já vem a caminho!), lindos, lindos e cheios de genica.
É dedicado também aos melhores Pintores do Mundo!
… para quem não sabe, trabalham em Alfragide, são mestres do óleo, peritos em acrílico e supra sumos na grande Arte da Amizade.



Nuno Quaresma,
Julho de 2010












Sem comentários: