domingo, 1 de fevereiro de 2009

Arte - Ensinar e Acreditar




Em douta e interessada conversa, Juan, colega artista e pedopsiquiatra, homem de singular experiência nesta área, colocou-me a seguinte questão: “Acreditas que alguém, como este caso de sequelas de paralisia cerebral, possua a capacidade completa de criar arte, ou enfim, de a entender e usufruir na sua totalidade?”
Não lhe soube responder. Talvez não em pleno, visto que Juan falava de coisas como o “Eu Fragmentado” e na minha inépcia em unificar esta fragmentação. Eu próprio, agora fragmentado e destroçado na minha visão una, única do Mundo, acreditava piamente que sim, que esta totalidade estava ao alcance de todos… mas não sabia, nem poderia saber, como o demonstrar, como o defender.
Oficina de Pintura, o Maio das plenas primaveras e o atelier ensolarado. Este foi o espaço físico em que esta questão caiu, entre o paralelo das nossas metodologias pedagógicas e desejos estéticos. Aqui compreendi finalmente o significado da pergunta “Acreditas?...”.
O ensino artístico, no fundo, é um acto de fé e vive dessa fé num Mundo sem verdades absolutas. Reunifiquei-me assim com as razões justas que não soube defender no primeiro momento: “A tão só alegria que um Homem dá a si mesmo” de Karl Marx ou o”Inútil que se justifica na nossa profunda admiração” na visão de Óscar Wilde ou ainda da “Suprema obra que precisará destas vidas para se concretizar”, na perspectiva de Merleau-Ponti.
Resta ao espectador reflectir sobre as suas razões também.

Alfragide, 30 de Junho de 2000
Nuno Quaresma



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