Falos poderosos,
proibições e a estrutura primeva do Humano.
Já era este o primeiro olhar sobre o tema, resultado na nossa profícua
cultura ocidental, aberta e livre que cresceu nos últimos 100 anos quase tanto
como toda a nossa espécie nos últimos 100 mil.
O olhar de uma cultura que conhece ou acede com facilidade à sua história,
geografia, ciência e que em apenas um século refundou todas as suas
organizações, culturas e crenças num processo imparável de globalização e
normalização.
Pelo menos assim gostamos de acreditar.
Há pouco mais de 100 anos, em 1913 Sigmund Freud fazia uma apreciável
contribuição à antropologia social publicando a obra “Totem e tabu, alguns
Pontos de Concordância Entre a Vida mental dos Selvagens e dos Neuróticos”,
onde constrói uma teoria psicanalítica em torno da origem da civilização.
Nesta obra Freud aborda o mito da Horda Primeva e da morte às mãos dos seus
filhos do Pai Totêmico do qual extrai algumas hipóteses sobre a origem das
nossas instituições sociais, culturais, morais e religiosas.
Pegámos no título da obra de Freud e decidimos colocar a nós próprios a
seguinte questão:
Serão os nossos símbolos contemporâneos mais poderosos e importantes ainda
influenciados ou dominados por este mito primordial?
Segundo este autor, totem e tabu é uma tentativa de explicar questões da
psicologia social, relacionando o totemismo aos vestígios da infância, que
procura nessa reflexão compreender a transição da organização dos Clãs
Totêmicos para a organização atual da Família, e depois em diferentes graus, em
Etnias, Nações ou Empresas.
O livro escolhe como um dos principais exemplos ilustrativos as tribos
primitivas da Austrália onde à chegada dos europeus regia o sistema do
totemismo (não existiam instituições sociais ou religiosas) com as
características comuns da proibição de matar o animal totêmico e da exogamia e
consequente proibição do incesto, tabu fundamental para a preservação de toda a
comunidade.
Serão os tabus primordiais as poderosas origens da ética humana?
Freud aqui retoma a sua teoria a respeito do Complexo de Édipo na qual
afirma que a primeira escolha amorosa da criança é incestuosa e desenvolve um
pouco sobre o papel destas fixações iniciais da libido na construção da vida
mental inconsciente.
“As mais antigas e importantes proibições ligadas aos tabus são as duas
leis básicas sobre o totemismo: não matar o animal totêmico e evitar relações
sexuais com os membros do clã totêmico do sexo oposto. Estes devem ser, então,
os mais antigos e poderosos dos desejos humanos”.
Antes de avançarmos, é importante entender que “Tabu” é um termo que possui
em si dois sentidos contraditórios: por um lado significa “Sagrado”, mas por
outro “Proibido” ou “Perigoso”.
É assim suposição geral que o tabu é mais antigo que os deuses e remonta a
um período anterior à existência de qualquer espécie de religião.
Na análise dos tabus dos povos primitivos, Freud constata ainda que estes
não divergem de alguns costumes das nossas sociedades contemporâneas:
restrições sobre o assassínio, restrições sobre a sexualidade, punições, atos
de purificação, expiação e reconciliação, cerimónias, proteção dos líderes/
governantes, proteção em relação a estes, contato com os mortos e rituais
funerários.
Define ainda três características principais para os tabus - o animismo
(objetos inanimados são animados por espíritos, demónios ou alma); a magia
(decorrente da necessidade de controle sobre o mundo, as suas forças e recursos
através de rituais e atos obsessivos com caráter mágico); omnipotência dos
pensamentos (crença nos desejos de forma desligada da realidade, narcisismo e
indiferenciação entre ego e objeto) – e compara as diferentes conceptualizações
do Homem em relação ao Universo com as fases do desenvolvimento libidinal: a
animista correspondente com a Narcisista, a religiosa com a escolha do Objeto e
a científica com a Maturidade (renuncia ao princípio do prazer e regresso ao
primado da realidade/ mundo externo).
Como Autores também viajámos entre o princípio do prazer e o princípio da
realidade?
Pintámos e navegámos nesta cartografia.
Em Totem e Tabu, com base no mito, é também afirmado que a religião
totêmica teria surgido a partir do sentimento filial de culpa, “num esforço
para mitigar esse sentimento e apaziguar o Pai por uma obediência a ele que
fora adiada” e teria como finalidade impedir a repetição do ato que causara a
destruição do Pai real.
Este remorso e em simultâneo triunfo sobre o Pai está, segundo Freud, ainda
persistente nas religiões – sacrifício do animal totêmico, comunhão no corpo de
Cristo – e o a ideia de Deus estabelecida, pelo remorso/ admiração, num Pai
Glorificado que também afetaria as organizações sociais estabelecendo o seu
modelo nas Famílias tradicionais de base patriarcal.
Desejo, Morte, Culpa e a tentativa de reconstrução desta ordem instituída
pelo Pai Primordial, através de um totem, fálico, grande e poderoso, em torno
do qual poderíamos encontrar e reconstruir a nossa identidade.
As obras aqui expostas não são totens, nem sinaléticas ou alertas
consagrados aos nossos tabus.
Antes são expressão deste interessante conflito interno que ao longo dos
tempos, desde as nossas origens imemoráveis, tem sido motor e fogo intrínseco
do nosso próprio processo de Humanização.
Nuno Quaresma
Fevereiro de 2015
Bibliografia
Totem and Taboo: https://en.wikipedia.org/wiki/Totem_and_Taboo, consultado
a 30 de Janeiro de 2016
“Totem und Tabu: Einige Übereinstimmungen im Seelenleben der Wilden und der
Neurotiker” Sigmund Freud, Beacon Press,1913
CONVITE
O Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Paulo Vistas, e os Autores do
Coletivo Aka Arte/ Num dia Perfeito, tem a honra de convidar V.Exa. para a
inauguração da Exposição de Artes Plásticas, Totem & Tabu de Nuno
Quaresma, Pedro Afonso, Simão Carneiro e Teresa Rebotim, a realizar no dia 3 de
Março, pelas 18h00, na Galeria Municipal Palácio Ribamar, em Algés.
Durante o decorrer da Exposição irão realizar-se workshops de artes
plásticas para público infantil. Informações em www.numdiaperfeito.com
A exposição estará patente ao público de 4 a 20 de Março de 2016, de quarta
a domingo, das 14h às 18h.
Galeria Municipal Palácio Ribamar | Palácio Ribamar, Alameda Hermano
Patrone, Algés | Tel. 21 411 14 04
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