domingo, 8 de fevereiro de 2009

Ars Vitae … over a Trick Wire




Logotipo concebido por João Moreno, 2008



Ars Vitae … over a Trick Wire*

*A Arte de Viver… em cima de uma Corda Bamba


A arte de viver, arte que é vida, modo de pintar, modo de estar na vida. Todas estas são formas lícitas de nos aproximarmos do percurso dos jovens Autores que vivem e laboram nas Oficinas de Artes da Fundação afid Diferença.

- Tão grande e bonito!
- Temos lanche na Inauguração?
- Eu carrego as telas…
- Posso levar o Diário para a praia? Emprestas-me a tua caneta para fazer um desenho?


Podes… Deves… É já a tua identidade. Esta rotina é o ar que respiras, o ar que respiramos.

Eis o eixo nuclear sistémico do trabalho artístico realizado nos nossos fóruns de pedagogia e educação. Uma identidade individual e colectiva, um habitat e uma atmosfera própria (com exalações de terbentina e óleo, bem ventiladas, claro! ), cheia de tintas, cavaletes, uma logística sofisticada (que culmina numa galeria/ montra on-line:
www.fund-afid.org.pt) que reforça e sustenta uma representação deste ofício no real, onde obras por vezes oníricas, emotivas, noutras racionais, quase sempre com destinatário, são alicerce e interface para um mundo… real.
Real no sentido de que não se alimenta apenas de expectativas. Concretizam obras, nela carregam significado, dela retiram fruto e com ela arrepiam caminho, com um imenso prazer.

“ Ars longa, vita brevis, occasio praeceps, experimentum periculosum, iuditium difficile” (1)

(1) Tradução para latim de um aforismo atribuído ao médico grego Hipócrates (
Cós, 460Tessália, 377 a.C.)


A propósito do real e das representações e a propósito da nossa natural e salutar tendência para uma boa auto-representação, nesta nossa Ars Vitae, Arte de Viver, existe também lugar para a reflexão, e hoje, cruzados que estão 10 anos de apoio incondicional a jovens Autores com Necessidades Especiais importa fazer uma reflexão, fazer o Estado da Arte sobre o globalidade desta intervenção.
Para isso é importante que nos voltemos a centrar na Visão que é Nadir e em simultâneo Zénite do nosso trabalho – uma Inclusão Positiva e Sustentável.

Ars longa, a Arte dura… e as colecções, produzidas pelo colectivo de Autores integrado na Fundação afid Diferença, compõem espólio e riqueza duradouros, património de Empresas, Instituições e Particulares, podendo hoje, quem tem acompanhado este amadurecimento inclusivo, esperar que estes agentes desempenhem o seu papel natural na valorização do que lhes pertence. Cumpre-se assim a condição mínima para a compreensão destas obras – a sua sobrevivência.

Vita brevis… Mas a Vida é breve… e poderão estes Autores colher em pleno os frutos desta participação? Poderá este trabalho manter a sustentabilidade para além de todas as conjunturas? Proteger? Empreender? – é relevante que encontremos estratégias e respostas e no espaço útil de uma vida.

Occasio praeceps, As oportunidades são passageiras… e o sucesso das iniciativas que hoje ultrapassam qualquer filiação institucional local e que cada vez mais ganham um cunho global, transnacional, são oportunidades essenciais e imprescindíveis.
Nestas destacam-se as comissionadas de forma independente e profissional, caracterizadas por novos posicionamentos e perspectivas em relação a esta arte. Esta nova abordagem será talvez o melhor catalizador para a carreira dos Autores e para a legitimação da sua Obra. Efémeros no tempo, é importante marcar estes eventos como referências e balizar alguma da nossa (enquanto pedagogos e organizadores) actuação pelos novos paradigmas que estes estabelecem.

Experimentum periculosum, a experiência é contudo tortuosa e incerta e enquanto, por um lado, se colhem boas práticas e outros sinais de mudança, por outro ainda há muitos muros e obstáculos interpostos entre esta arte e sua plena integração.
O circuito galerístico continua a estar vedado, apesar de felizmente um pouco mais seduzido, e muitas das iniciativas de sucesso operam-se graças ao seu pendor social e solidário, absolutamente meritório, mas também incontornavelmente paternalista.
Para quando a emancipação? Será esta emancipação o caminho?

Iuditium difficile, o juízo nestas e noutras questões ainda hoje não é fácil, sobretudo porque tendemos a ser juízes em causa própria.

… Over a Trick Wire


Mas o caminho faz-se sobretudo caminhando e, neste caso, “over a trick wire”, em cima da corda bamba – volátil, perigosa, difícil…
Ou antes, firme, segura, confiante…
A proposta que este evento postula oscila entre estas duas posições.
Não edificará concerteza uma hipótese científica, mas é laboratório para uma nova forma de entender colectiva, independente e internacionalmente, um trabalho que, para além de tudo, se tem imposto de forma Positiva e Inclusiva.
Funambule, TricK Wire, Corda Bamba, é a perfeita metáfora para o equilíbrio que todos os participantes, de um modo ou outro, procuram. Uma nova competência – não a de caminhar num caminho certo, mas a de ser capaz de cumprir outro bem mais incerto.
Sair de onde nos encontramos e chegar onde desejamos, sem perder o equilíbrio.



Nuno Quaresma
(Oficina de Pintura – Fundação afid Diferença)
Setembro de 2008
oficinadepintura.afid@gmail.com
www.fund-afid.org.pt

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