Um comboio chamado desejo ou o Amor também se encontra a
120km por hora é diferente da versão que provavelmente conheces – “ Um elétrico
chamado Desejo” - A Streetcar Named
Desire, de Elia Kazan com Marlon Brando e Vivien Leigh, de 1951.
Nesta minha, improvisada entre as escalas dos autocarros
frente aos Prazeres (onde curiosamente passam muitos elétricos :), oscila entre
a profundidade e a superficialidade, entre o Amor, o verdadeiro, e a lascívia…
entre o importante e o relativizável.
Não tenciono extrair daqui generalizações ou fórmulas. Falo
disto porque é a verdade. Já me aconteceu; encontrar o amor a 120km hora.
A esta velocidade, se espirras, andas aproximadamente 30
metros com os olhos fechados, entregue ao destino, sem consciência ou controle
sobre o que se passa em frente dos teus olhos.
São 30 metros às escuras.
Procurar amar a 120 Km hora é como dar um salto de fé numa
furna escura de onde o mar se percebe apenas a sua voz e cheiro. E de repente,
bater na água com força, tocar com os pés na areia e abrir os olhos para uma
superfície em efervescência.
Encontrar o amor assim deixa marca, entre a dor e o prazer,
e pouco tempo ou espaço para escolhas.
Num amor encontrado assim, há um misto de religiosidade e
trauma.
É um acontecimento à escala planetária, como uma colisão, na
força da trajetória, entre Vénus e Marte.
Contudo, se aprecias as viagens de comboio, sabes que esta
velocidade desenfreada é sentida num estado de relativa imobilidade. Vive-se,
aliás, viaja-se no maior dos confortos e tranquilidade mas, infelizmente,
tristemente… sós.
Quando damos conta, neste comboio chamado desejo, quando
acordas da torpeza desse sono de viajante, estás apenas só.
Olha! Parece que estou a chegar à estação!
Espreito pela janela e vejo as paredes azuis de uma luz
mesclada que só conheço de Lisboa.
Mais um bocadinho e estou à tua porta!
Por essa estrada, nessa rua, à tua porta…
Viajo num comboio chamado Desejo mas tu és a minha Casa…
NQ
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